Por Alcilene Maria Gomes
A articulista é fisioterapeuta e estudante de mestrado, reside na cidade de Couto de Magalhães de Minas – MG. Segundo a articulista a “Desumanização do Parto” tem merecido destaque nos problemas relacionados ao SUS e deve ser refletido a fim de que a política de humanização se torne uma realidade prática em nosso país.
Artigo de Opinião
Que não fosse necessário humanizar
Nove meses após manter uma nova vida em formação, eis que esta surge ao mundo. Mas não é tão simples assim! Ao longo da história, os partos que ocorriam em ambiente familiar com assistência das parteiras e participação da gestante foram institucionalizados, realizados por médicos e uma equipe especializada, sendo a gestante uma “coadjuvante” do momento do nascer.
A institucionalização do parto acarretou a utilização de procedimentos e equipamentos a fim de minimizar o tempo e aumentar a sua praticidade. Os avanços técnico-científicos têm grande contribuição no aumento da segurança materno-fetal e na redução da mortalidade durante e após o parto. No entanto, também relacionam-se ao aumento das cesarianas (muitas vezes consideradas desnecessárias) que têm crescido significativamente ao longo dos anos. De acordo com o DATASUS em 2010, ocorreram no Brasil 1.362.287 partos vaginais e 1.496.034 partos cesarianas (Viana, 2014).
Neste cenário de menor participação da parturiente e carência de educação em saúde foi criado o programa de Humanização do Parto e Nascimento pelo Ministério de Saúde, com o objetivo de assegurar que o momento de “consolidação da vida” ocorra através de práticas que favoreçam o parto e o nascimento de maneira mais natural e mais saudável. Na prática da humanização vemos o aumento de partos normais e redução de riscos e danos relacionados ao parto, mas também observamos as maternidades que proíbem a presença de um acompanhante; a realização (ou não realização) de procedimentos que desconsideram a autorização e o conhecimento da mãe; a violência verbal; física e em todas as dimensões que caracterizam a cada vez mais dita e presente violência obstétrica.
Trocar a imposição da cesariana pela imposição do parto normal não melhora a realidade obstétrica do nosso país. É preciso conscientizar as gestantes desde o pré-natal, sobre os benefícios e possibilidades do parto normal, bem como, identificar fatores de risco durante a gestação para a realização da mesma. Decidir o tipo de parto a ser realizado é uma tarefa médica, mas também materna, porque apesar de muitas vezes tratada como “coadjuvante” a mãe deve ter todo o destaque na história do nascer.
A incoerência do programa do Ministério da Saúde inicia na “humanização do humano”, na necessidade de ressaltar aos profissionais de saúde que vidas, famílias, sonhos e amores estão sobre a sua responsabilidade. Ninguém deveria precisar lembra-los disto.
Referências Bibliográficas:
Viana, LVM; Ferreira, KM; Mesquita, MASB. Humanização do parto normal: uma revisão de literatura. Saúde em Foco. 2014; 1(2), 134-148.
Alcilene Maria Gomes