Simples assim. É covardia demais alguém ir com sete pedras nas mãos para cima de mães e pais, imputando-lhes culpa pelos descaminhos dos filhos. Olhe aqui, covarde: se quiser atacar alguém, ataque aquilo que esse alguém faz literalmente, e não o que os filhos dele fazem.
Desculpe-me se me estresso, mas isso não é à toa. É demais para minha cabeça ver tantos santarrões nesse mundo podre. Num hospital recentemente, observei uma “dona da razão” falando em bom som a uma mulher sentada, dizendo para quem quisesse ouvir que esta deveria parar de passar a mão na cabeça dos filhos. Ao dizer-lhe isso, essa “toda poderosa julgadora da vida alheia” falava que se seus “sábios” conselhos não fossem atendidos, a mãe ali sentada teria de passar pela dor de ver outro de seus filhos também internado. Ficou claro para todo mundo que algum mau caminho do filho dessa pobre mulher o levou a ser ali internado. Só que, em vez de receber ajuda, o que pude ali perceber eram ataques cruéis, que diziam que a culpada por tudo aquilo que de ruim estava acontecendo era ela mesma: a pobre mãe que estava com seu filho internado.
O crime imperdoável que essa mãe cometeu para ser culpada de ter seu filho em mau caminho e agora internado num leito de hospital? Passar a mão na cabeça dele. Claro, isso de acordo com as palavras da “sábia” mulher que ali estava despejando fel em cima de feridas abertas da mãe, que não tinha nem forças para responder quase nada. Eu só a ouvi dizer algo do tipo: “mas não posso colocá-lo para fora de casa, ele não teria para onde ir”.
Ainda tenho de ficar calma? Desculpe-me mais uma vez, mas não consigo. Deixe-me explicar uma coisa: Se alguém QUISER fazer algo errado, não importa o quão boa ou ruim tenha sido a criação desse infeliz alguém. Quer que eu desenhe? Gente, pelo amor, sem essa. Não faça pouco da minha inteligência. Por mais jovem que seja, um adolescente não é criança. Ele sabe muito bem distinguir entre o certo e o errado e ponto-final.
Eu sei que é confortável para quem quer ter filhos imaginar que tudo dará certo se criá-los bem. Desculpe-me desapontar, mas, infelizmente, as coisas não são assim MESMO. A partir do momento que não dá mais para colocar o bonitinho no colo (mesmo fazendo birra) e levá-lo para onde você quiser, mãe ou pai, as coisas literalmente saem do seu controle. Aquilo que você tão bem ensinou, as longas conversas e os conselhos intermináveis, Deus queira que o bonitinho de seu filho dê valor, pois se ele não quiser, só Deus na causa! Juro que estou quase desenhando, mas vou tentar novamente com palavras: a menos que estejamos falando de uma criancinha, SEU FILHO É O ÚNICO RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE FAZ OU DEIXA DE FAZER. Ponto-final.
Mesmo se você tiver errado, mesmo se você tiver acertado, seu filho fará exatamente o que ele quiser fazer e exatamente ninguém vai impedi-lo se desejar trilhar caminhos tortuosos. Isso, infelizmente, independe do que você ensinou ou não. Seria tão bom se a criação dada a um filho o livrasse dos maus caminhos…
Já vi gente falando que é preciso punho firme com os filhos adolescentes. Ah, que isso, pelo amor. Trabalho há anos com vários adolescentes, mas mesmo antes de trabalhar com eles eu já sabia que o x da questão não está em quem manda, e sim em quem obedece.
Sério. Juro que é assim. Você acha que manda muito nos outros? Não é que você seja muito forte ou muito bom no que faz ou no que julga ser. Imagine, bem longe disso, são esses outros que, por motivos mil, aceitam receber suas ordens. “Tire seu cavalinho da chuva”, não é nada com você que manda, é com o outro que obedece.
É a coisa mais fácil do mundo provar que os pais, por piores ou melhores que tenham sido, não têm culpa pelos erros dos filhos. Não são poucas as famílias decentes que têm filhos mergulhados em caminhos ruins. De forma muito semelhante, é muito simples conhecer gente boa de verdade nascida em famílias sem a menor estrutura.
Então, pare com essa de se culpar por DECISÕES QUE NÃO SÃO SUAS. Agora, se eu estiver falando com a “dona da razão” acima qualificada, aconselho você a engolir as suas palavras. Se não for para ajudar, por favor, não aumente ainda mais a dor das famílias que têm o desprazer de terem filhos em maus caminhos.
Por Erika de Souza Bueno